Harmônica Clepsidra

Harmônica Clepsidra
no condomínio das ações do amanhã
transferência clandestina de poder
não há tentação do espírito
do que correr o risco do sentido por vir.
 
No terraço
ao vento que vai
aos pensamentos que reverberam
vaga-lumes dançam
transeuntes sem reflexão.
 
Na frente cadeado com luz
atrás assustado com a massa rural
não há doce trégua
virando as páginas de um livro ilustrado
do que a zombaria das palavras risonhas.
 
Embriagado com protestos
à mercê do que eles dizem
pena de águia plantada no rosto
a vermelhidão carnívora de nossas bochechas de alabastro
brinca com o aglomerado de vestígios de vida.
 
Entre na grande sala de sal
coisas que mantemos
cuidar do som do eco
voar para o leito das probabilidades e extremidades da esperança
tudo é felizmente próprio.
 
O chamado gemido das coregias
a ascensão moribunda dos réquiems
as batidas pontuadas do campanário de nossa infância
no nenúfar de um silêncio
a musa está lá assobiando sua limonada.
 
Os estorninhos passarão em tropas assustadas
a presa e a sombra subirão aos pináculos
olhos misteriosos da esfinge eterna
auto-arremesso
les menus detritos sobre nós preocupações.
 
não nos casemos
vamos ser esquerda e direita
da espada de louvor
para becos sem saída e bugigangas
vamos manter o encantamento simples.
 
 
658

Téké da fazenda da rocha

Téké da fazenda da rocha        
no mato seco    
a carícia oscilante da lavanda    
acompanhar o dia de queda.        
 
No colo do chefe    
Obiwan o cachorro    
torná-lo bonito    
boca aberta e língua de fora.        
 
Passando por aí    
cabelo rebelde      
e o olho selvagem    
é um bom presságio para um belo outono.        
 
queda das castanhas    
na laje de basalto    
bugs presos e poeira levantada
as crianças se deixam levar.        
 
Na cavidade do sofá    
surdo aos gritos indignados    
você examina e acredita    
a cumplicidade de trocas francas.         
 
O acordeão atrevido    
aumenta a alegria e o romance    
perto do tom-tom na entrada    
o que joe guarda.        
 
E o aço na planta do pé    
a serragem rói os bolsos    
suor rachado    
chapéu de abas largas.        
 
De nossas mãos    
lenço acenou    
no mundo todo    
bem-vindo o sol poente.        
 
Não há dinheiro    
do que o queixo da vovó    
pó de ouro estrelado    
polvilhe no muro baixo.        
 
Morda a salsicha    
em sua mostarda marrom    
conversar em ritmo    
camisa aberta e elegante no canto dos lábios.               

deixe ele voltar    
ser o farol de trabalhos e dias    
no limite da felicidade    
na hora marcada.        
 
Saldo de saldo    
a cadeira das quatro estações    
no deck de madeira pintada    
ao som de grandes pica-paus malhados.        
 
Rir senhores da planície    
do frisado de seu riso    
o cheiro de nozes trituradas é exalado 
em uma melodia de bastringu.        
 
Téké está feliz   
verdadeiro faz-tudo   
nesta aventura luminosa   
aos rizomas das coisas simples.
 
 
 
657
 

Full Face e Snow Flea


cara cheia    
e pulga da neve    
conheceu no mosteiro  
foi na terra    
quando a mônada absoluta    
voltou no tempo.        
 
Na emoção da meia-noite    
a troca ocorreu    
corte profundo    
na linha do tempo dos anos    
onde montar o saco de trigo    
pisadores raspando a prancha desgastada.        
 
não ria    
deste pobre marionetista    
puxar os fios da memória    
sob o céu das relações humanas    
a música dela é querida    
sob o Luberon na primavera.        
 
tal rima de berçário    
quebrando seus membros    
abre o caminho dos carvalhos    
pelo pensamento e sanfeno    
em direção ao feno perfumado    
folhagem crocante.           
 
 
656

Me escapa e me foge

Me escapa e me escapa 
esta última sombra    
colapso das provas    
em qualquer assunto escolhido.        
 
Me convém estar cansado     
no pôr do sol da mente    
com riachos sibilantes    
de um velho oceano.        
 
E eu não tenho nada    
nada além do choro da minha querida    
sob o caramanchão    
respirar à noite.        
 
Fusão do tempo    
com árvores curvas    
envolto em névoa    
no oco das ondas cinzentas.        
 
Para amar com um chupão eterno    
o pavio da vida    
que as cigarras cantam    
com incrível estridência.        
 
Se eu tiver que segurar    
se apenas uma mortalha    
na porta do templo    
leva-me Senhor.        
 
vazio de sorrisos    
aos ventos oferecidos    
o silêncio do beco das faias    
reflete o último poema.        
 
Do infinito de um céu à direita        
tornar-se o vazamento vernáculo    
girando sem fôlego    
na ladeira das metáforas.        
 
Vozes à distância    
nesta tempestade    
onde o cavalo magro morre    
voltando da missão.        
 
Retorno sem elogios    
para a primeira fonte    
toque os sinos    
galochas artesanais.        
 
Troca de oficiantes    
para seus esconderijos misteriosos    
na montanha aguada    
memórias oceânicas.        
 
 
655

pai e mãe juntos

pai e mãe juntos    
andou em abundância de memórias    
quando    
surpresos em suas brincadeiras de ternura soletrada    
eles me ordenaram a assumir o desafio    
com os amigos do Encontro.        
 
Segure esse impulso    
seja o pavio sem vacilar    
por mais gratidão    
nesta vida menor    
cheques de guingão    
recortando com um cinzel do trabalho contido.        
 
Apenas uma emoção livre    
époumone este trabalho em si mesmo    
que a forma antiga acompanha    
na noite de verão a detenção    
na fonte do assunto    
do nosso contrato de amor.        
 
Não saia    
no litígio de coisas vãs    
estar em solidariedade com grandes vidas    
capaz de atravessar a linha de falha evolutiva    
capaz de densificar o reino da beleza    
ao semáforo das sabedorias de princípios.        
 
 
655
 
 

A andorinha e o mastim

A andorinha pousou    
e o fio desenrolado    
sua munificência no fundo dos ganhos inesperados.       
 
A andorinha em si redonda e bonita    
todas as asas abertas    
para cruzar o limite.        
 
A andorinha aconchegou-se sob o toldo    
mochila colocada lá    
tempestade de sucesso.        
 
Fortemente inclinado a brilhar   
a andorinha se permitiu um voo assintomático    
na passagem do Único.        
 
Esgotando sua ração de carne grossa    
o mastim virou-se para o fogo    
tempo e mente contíguos.        

Sob a secura das palavras    
devíamos ter correlacionado     
a mensagem da andorinha    
que assina seu vôo de ultrajes verbais    
com o famoso cedro alto 
interpretando casualmente
o grito da marmota
para uma valsa musette.        
 
 
 
654

O terno amor pelas coisas simples

vida de reboque    
momentos ligados
ao passar do tempo.

Cardar a lã
refoca em fibra
água e luz.

Fluescência de memórias
movendo algas
parvient a respiração amarrotada da praia.

Casaco gorduroso
pôneis marinhos
seus cascos chacoalham.

Espalhar
cobras pingando
grimórios arborescentes.

Na tecelagem tudo recomeça
fios se sobrepõem
ponto cruz pisca.

Limpe a planta
de sua ganga terrena
exalte l'offrande à la vie.

De entre os dendritos
o fundo do universo é oco
para perturbadores buracos negros.

Pela macieira
as abelhas estão fodendo
o terno amor das coisas simples.


653

Main dans la main

Main dans la main    
sous le visage du jour qui point   
les petits riens    
le sourire parapluie de la joie.        
 
Paraphrase des mots de mise en scène    
enceinte de pierres sèches à demeure    
collerettes de saxifrages    
et chants du printemps.        
 
Cueillir le romarin    
pour tes genoux de reine    
à rire sans détours bonde ouverte    
sous le déversoir de nos amours.        
 
Issue de pleine lune    
l'agitation dans la prairie    
laissa place au frisson    
prurit des sensations.        
 
Focus immédiat    
au carré d'as du triage    
la défausse fût grave    
quand le petit s'en mêla.        
 
Main dans la main    
sans se dire à demain    
nous partîmes à mi-pente    
chacun de son côté.        
 
Finissons-en de ce cadavre chimérique    
sanglons le cheval du néant    
pour de plus amples emplettes    
à quémander sur le chemin du silence.        
 
Puisons l'eau de la combe    
à déraison sous le cresson    
Mam' le disait déjà    
qu'il fera beau demain.        
 
 
652
 

Mâchicoulis des mots de grâce

Mâchicoulis des mots de grâce  
à la porte principale du tourniquet des émotions    
font font font les petites marionnettes    
sous le dais parfumé des jours de fête    
à bercer l'enfant doux.        
 
Il est des escapades    
que l'on doit faire    
et que le temps érode    
flegmatiquement quand passent les cigognes    
sur la plaine neigeuse.        
 
Mille fruits d'or tombés pendant la nuit    
rassemblent les journaliers    
pour un jour enfreint de mélancolie     
mon âme ma sagesse    
l'impeccable épée des recommencements.        
 
J'avoue prendre gîte    
chez mon ami le poète    
à l'univers courbe    
quand monte du fond de la vallée    
la brise de l'esprit.        
 
Je muis je muis d'amourette    
au creux des vagues au souffle rauque    
galets contre galets    
que la voix des volets vole    
heurtant la pierre en cadence.        
 
Puissent les pas sur les dalles
casser de puissante manière    
le code des habitudes    
et proposer au pilori    
la remontrance éberluée de nos enseignements.        
 
Il n'est de sang    
que la poussière    
fine résille sur le sable des arènes    
quand passe la bête    
aux flancs de banderilles et de suint mêlés.        
 
Revenir    
sage    
au bord de l'onde    
entre la couronne d'une ronde      
et le baiser de joie.
 
651

Des crêpes dans la poêle

Des crêpes dans la poêle    
de la paille sur la terre    
manche de bois    
et gamelle    
sont les auxiliaires de Mère-Grand.        
 
Il y en a pour tous les âges    
des en cours    
des pas trop courts    
et des courants d'air    
qu'ont l'air de pas savoir.        
 
Faut se dire    
que la vie règne sur la vie    
et qu'elle trace sa route    
évitant d'être    
cette poussée hors de soi.        
 
Les doigts peuvent frémir    
sous les affres de l'hiver    
la queue de pie de l'officiant    
monter en paradis    
avant de rouler dans la fosse.        
 
Chapeau bas    
messieurs de la croyance    
au limonaire de l'esprit    
dansent sur une jambe     
les lucioles de l'enfance.        
 
 photo de Luce Gérard
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